Como você se sentiu ao encontrar uma pessoa amada que não via há tempos? Ou quando você conquistou uma oportunidade há tanto almejada? Como descreveria seu espírito ao constatar o amor e afeição vindo de alguém muito especial ? É o aspecto emocional o responsável por colorir todas essas experiências e são as emoções a causa de todo estado de satisfação e felicidade que experimentamos. Não há como ser feliz sem emocionar-se. E tal como na razão, o nosso Senhor também possui e experimenta emoções, ao sermos criados como imagem e semelhança dEle. Desta feita, a relação entre dois seres dotados de emoções deve também produzir estados emocionais (Lc 15:7), portanto, Deus quer emocionar-se conosco através de estados de felicidade e prazer.
No artigo anterior desta série, afirmamos que nossa relação com Deus deve ser fundamentada na razão, e uma das justificativas apresentadas foi que a habilidade de julgar e avaliar é um dos diferenciais do ser humano e que reflete a imagem e semelhança com seu criador. Entretanto, com base no dualismo criado pela sociedade moderna, podemos ser induzidos a concluir que todos os discursos que valorizam a razão acabam por menosprezar ou diminuir o papel das emoções. Mas essa visão não reflete a perspectiva bíblica sobre o caráter do “Eu Sou!” e nem as mais recentes pesquisas sobre o comportamento cerebral. Por exemplo, ao descrever o reino de Deus, reino como uma comunidade que começa ao aceitarmos os princípios de Cristo, Paulo afirma: “Pois o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo; ” (Rm 14:17), o que demonstra que o estado emocional de alegria, paz e satisfação precisa estar presente ao fazermos parte desta comunidade. Em outra passagem, o próprio Jesus declara que o cumprimento final de suas promessas resultará em alegria (Jo 16:20), mesmo que, por enquanto, experimentemos dor e tristeza. Sendo assim, de forma alguma, Deus desconsidera ou desvaloriza a emoção ou espera que nós a suprimamos, mas deseja, com base em uma relação especial conosco, gerar emoções reais, felizes e consistentes em nossa vida.
Além da perspectiva bíblica, o valor do aspecto emocional na experiência humana tem sido fortalecido a cada desenvolvimento da ciência do cérebro. No livro best seller “Inteligência Emocional” da editora Objetiva, o autor Daniel Goleman demonstra o papel fundamental e essencial que as emoções possuem na experiência humana. Com base nisso, a pergunta mais importante a fazer é: Como um Deus racional e que se emociona espera relacionar-se conosco? Ou como devem a razão e emoção serem ajustadas em nossa vida e em nossa relação com Deus, de forma a produzir felicidade plena? Mais uma vez, a neurociência e a Bíblia apresentam uma resposta harmônica.
Segundo as mais recentes e importantes pesquisas em neurociência, quando impulsos externos chegam aos nossos sentidos são encaminhados até o tálamo, sendo então transformados em linguagem cerebral. Essas informações convertidas são encaminhadas ao neocórtex (centro da razão e avaliação) que decide como lidar com elas e avisa a amídala cortical (centro emocional) como reagir. Portanto, em um funcionamento cerebral normal, as emoções são profundamente importantes mas devem ser guiadas pela região racional do cérebro. No livro “Simples demais” de Timothy R. Jennings, editora CPB, há diversos exemplos ilustrando esse comportamento. Por exemplo, um objeto alongado sobre a grama do jardim pode despertar um estado inicial de medo e alerta, mas que melhor avaliado pela razão, descobre-se ser uma mangueira e não uma cobra, sendo então o estado emocional de medo desestimulado.
No livro de Romanos recebemos o seguinte conselho: “Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” Rm 12:1 e 2. Neste texto o apóstolo declara que precisamos ter uma transformação mental e desenvolver o culto racional para só então desfrutar (emoção) a boa e agradável vontade de Deus. O que se confirma que o funcionamento saudável do cérebro ocorre quando o sistema límbico, responsável pela emoção, é coordenado pelo córtex pré-frontal (razão). Desta forma, poderemos entender que a razão ou emoção não são mais ou menos importante uma em relação a outra, mas em termos de função na estrutura da mente a razão precisa estar no controle e guiar a emoção. Ambas são essenciais, mas há uma ordem organizacional.
O texto de Rom 12:1 e 2 deixa claro que a forma como eu devo me relacionar com Deus precisa ser dirigida pela razão mas não sem resultar em lindas e coloridas emoções. Subestimar ou Superestimar um ou outro aspecto não me permitirá experimentar a suprema felicidade de uma intimidade de amor com Deus. O grande “Eu sou” quer se emocionar com você!