Poema: Conta e Tempo (por Frei António das Chagas)

Conta e Tempo

Deus pede estrita conta de meu tempo.
E eu vou do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta,
Não quis, sobrando tempo, fazer conta,
Hoje, quero acertar conta, e não há tempo.

Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta!

Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter tempo…

Frei António das Chagas, in ‘Antologia Poética’

Poesia: Ele (por Assad Bechara)

Ele

Ele é a música que inspira os meus versos,

as frases do meu louvor,

a Letra que rege a minha composição.

É Ele quem solfeja as minhas partituras

e orquestra as minhas dissonâncias.

Ele é o Compasso da minha respiração…

O Sopro do Cenáculo é o meu alento,

o Diapasão das minhas notas.

Ele é a Rima da minha poesia,

a alma das minhas palavras,

e o Dicionário dos meus silêncios…

Ele é o Amazonas Infinito

dos meus igarapés,

a completude oceânica das minhas gotas.

Ele controla os mares encrespados

e ouve o grito abafado perdido entre vagas e procelas.

O Senhor das Ondas

navega acima faz minhas tempestades

e me guia  nas planícies do Oceano Pacífico…

Ele é o Farol das minhas sombras.

O Gentilíssimo não Se afasta das minhas emergências…

A Ternura Compassiva sonda os meus crepúsculos

e quando densas sombras me envolvem.

Quando as minhas folhas se murcham

e as pétalas estão secas,

Ele me hidrata com a suavidade do orvalho.

Ele é o ribeiro cristalino que percorre

os meus desertos,

a Sombra da Palmeira no ardente zênite das dunas.

Ele é a Água de Vida para os lábios sedentos…

A doce Tâmara que me revigora na jornada…

O médico dos médicos é o ritmo da minha respiração,

o Bálsamo da minha dor,

a cura dos meus impossíveis…

Ele não me deixa

na profundidade desconhecida dos vales…

Ele nunca me perdeu de vista

mesmo quando estive longe…

Ele quem me resgata das minhas tangências

e dos meus extravios…

O Regente das Galáxias me ama

e não abandona este ínfimo grão de areia…

O Matemático do Universo

sabe calcular os meus algarismos intrincados

e arruma as minhas órbitas…

O Algebrista Divino conhece as minhas rotações

e as minhas geometrias…

Ele sabe as curvas do meu voo.

Porque nem altura nem profundidade

nem longitude nem latitude,

nada poderá me separar do

grande amor de Deus.

 

Assad Bechara